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Carlos Eduardo Santana

Data da notícia: 2024-03-04 17:33:59
Foto: Assessoria/Divulgação

Entrei no INPE em outubro de 1985, quando começava o projeto do Satélite de Coleta de Dados (SCD-1). Em meados de 1986, foi feito a primeira revisão, quando conheci o falecido Dr. Santana.

Em 1988, iniciamos os testes do SCD-1 de qualificação. Descobrimos que o equipamento de telecomunicações estava invertendo os dados, Propus resolver o problema por software, Dr. Santana concordou com a solução, mas mandou o fornecedor japonês corrigir o erro.

Quando recebemos o modelo de voo, desta vez, o receptor perdia o sincronismo e, consequentemente, a comunicação porque os dados continham muitos zeros, falha da tecnologia. Como os telecomandos eram enviados duplicados, sugeri colocar outros números na duplicação para não perder o sincronismo. O Dr. Santana disse que desenvolvêssemos o equipamento para isso.

Os componentes do SCD-1 de voo foram concluídos em março de 1990. O projeto do Veículo Lançador de Satélites estava estagnado, mas os militares ainda tinham influência no governo federal, assim, o SCD-1 foi para a prateleira esperar dias melhores.

Nesse ínterim, em fevereiro de 1987, assinava-se o acordo de construção do satélite CBERS-1 com a China, com a participação de diversos tecnologistas, entre eles o Dr. Santana, que viria a gerenciar o projeto quando os problemas ficaram intransponíveis.

Em 1989, Collor assume a presidência e leva o Brasil a uma crise jamais vista, levando o INPE também à estagnação. A situação só mudou em meados de 1991, quando o presidente Collor resolve comprar o foguete lançador para o SCD-1. O Santana começou a fumar charutos cubanos, empesteando o prédio Beta, quando alguém colocou uma seta indicando “cabana do Pai Santana”, que ficou ali por muito tempo.

Em 1992, o Santana chamou o Alderico e a mim para expor seus dois grandes problemas, o equipamento de testes do satélite do LIT requereria dez pessoas para montar e operar nos Estados Unidos e, mesmo assim, quando fosse lançar, não teria como verificar a sanidade do SDC-1. Ele queria que desenvolvêssemos um equipamento de teste parecido como o que eu tinha feito antes. Hoje, vejo que ele apostou a carreira em mim, um tecnologista iniciante.

Depois, queria utilizar esse equipamento em Alcântara, pois somente na terceira órbita o SCD-1 passaria por Cuiabá, uma visão sábia, pois o software de previsão de órbita mostrou-se errado, como ele temia, poderiamos ter perdido o SCD-1 para sempre.

O CBERS-1 afundava, o Santana assumiu a gerência tendo que ensinar os chineses uma metodologia de trabalho. E no primeiro semestre de 1995, a Esca, principal fornecedor brasileiro entrou em falência. Santana organizou o “saque” dos equipamentos que estavam lá e ficou esperando a Polícia Federal vir ao INPE. Sem isso, o Programa CBERS teria morrido.

Após organizar o Amazônia-1, Santana foi colaborar com a prefeitura de São José dos Campos, sendo responsável por diversas ações, como a do Parque Tecnológico. Embora olvidado, precisaríamos de um livro grosso para contar tantas coisas boas que ele fez. Encerro parafraseando seu lema: Agora, Santana está com Deus!

Fonte: Mario Eugenio Saturno




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